quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Agricultura Familiar


“a que está integrada por explorações que utilizam exclusiva ou maioritariamente força de trabalho da família”
por Gómez Benito et al (1999)



Charles Darwin – Teoria da Selecção Natural. O mais forte e mais adaptado sobrevive...

Esta é uma teoria que pode ser transportada para o actual mercado globalizado, onde é cada vez mais difícil a sobrevivência de pequenas explorações agrícolas. Porém, estas ainda sobrevivem porque o trabalho familiar não é contabilizado, e porque outros valores se levantam na razão da sua existência quando comparadas com as grandes explorações capitalistas. Isto acontece na Europa mediterrânica. Na Europa do centro e norte, a mão de obra familiar está “(...) submetida a valores e normas sociais originadas nas classes assalariadas, tendendo a ser entendida como um verdadeiro emprego, e apresentando-se cada vez mais profissionalizada” (Canadas). As explorações agrícolas familiares conseguem ser altamente competitivas.



«O sucesso na Europa do Norte do “modelo dominante da exploração agrícola familiar, fortemente capitalizada e tecnificada, de média dimensão física mas de grande dimensão económica”, esteve dependente, segundo Baptista (2001) da “possibilidade que estas unidades de produção tiveram de aplicar módulos tecnológicos adequados á sua dimensão e que lhes permitiram maximizar a rentabilização de economias de escala”.» (Canadas)


É necessário citar que as culturas mediterrânicas são só por si mais dificeis de mecanizar, embora a sua mecanização não seja impossivel, mas por enquanto é mais barato pagar a mão de obra precária vinda do norte de África e Leste da Europa (muitas vezes na clandestinidade, talvez a maioria, como é o caso em Almaria, Espanha) do que desenvolver tecnologia para mecanizar estas culturas. É esta a base de sustento da maioria da agricultura mediterrânica perante as “exigências” de um mercado globalizado, a mão de obra emigrante (clandestina). Estamos assim perante o chamado “modelo californiano”.


Pergunta ao chefe de uma exploração familiar na Região Oeste de Portugal:

Quais os objectivos e perspectivas de futuro da sua exploração?


“o sustento da família" “atingir a reforma”


Esta é uma situação comum a muitas das explorações familiares da região (e do País). Poucos são os filhos que seguem as profissões dos pais, e assim não há ninguém que dê continuidade a estas explorações. Nestas condições dificilmente estes agricultores alteram os seus sistemas de produção, pois têm poucas perspectivas de futuro, e apenas aguardam a sua reforma para se retirar, embora muitos deles pretendam continuar a “trabalhar a terra” como uma espécie de passa tempo e complemento á sua reforma.


Muitas destas explorações estão condenadas a acabar quando os actuais agricultores chefes da exploração abandonarem a actividade. Ainda assim continuará a haver agricultura familiar, em menor número, mas esta não acabará nunca. Surge a oportunidade para agregar parcelas e fazer crescer as explorações familiares sobreviventes, ganhando estas, condições para evoluírem tecnologicamente e tornarem-se mais competitivas.



A agricultura tradicional Portuguesa segue um modelo insustentável do ponto de vista económico, social e ambiental. Urge assim a necessidade de mudança! Problemas de ordem técnica ligados à falta de formação (erosão, contaminação, protecção, sanidade,...), fazem ressaltar a necessidade enorme de fazer chegar o conhecimento junto dos técnicos e agricultores. Numa análise à dispersão dos terrenos cultivados, à sua dimensão, geometria, orientação, e utilização, está implícita a necessidade de efectuar um bom plano de ordenamento do território. Analisando o dimensionamento dos parques de máquinas destas explorações, facilmente se conclui que estão em excesso para as necessidades da mesma, assim seria mais rentável recorrer à prestação de serviços do que adquirir determinados equipamentos.


Para a sobrevivência e sucesso das explorações familiares em Portugal e no restante Sul da Europa, é necessário tomar como referência os sistema agrários em que estas têm sucesso no centro e norte da Europa. Assume assim grande importância o desenvolvimento de “tecnologias divisíveis” e a prestação de serviços, tal como a formação de técnicos e agicultores. Áreas onde o cooperativismo, o associativismo e a intervenção do Estado têm um papel fundamental.


imagens: Bulent Okutan/Turkey e Paolo Dalponte/Italy


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