terça-feira, 22 de abril de 2008

Muit@s Precári@s à Solta na Festa MayDay!!

Muitas, muitas centenas de pessoas estiveram no passado sábado no Ateneu. A Festa MayDay “Precári@s à Solta” correspondeu às melhores expectativas dos muitos contributos necessários para a organizar. Muita gente respondeu ao apelo: festejar a recusa da precariedade e pensar respostas, colectivamente.

Primeiro, a projecção vários filmes: mobilizações, denúncias e intervenções, cá e lá fora. Depois, as músicas de Pedro e Diana, Ana Deus, Loja das Conveniências e Micro Sapiens. Noite dentro, durante toda a festa, a zona de “workshop” permitiu a muita gente pôr ideias em materiais – muitos ficarão, certamente, para a parada! Um programa cheio, porque muita gente quis participar nele e contribuir para uma festa em que o apelo à mobilização se procurou tanto nas actividades e performances como na forma de as fazer.
Valeu a pena o esforço de construir uma festa com as nossas mãos, sem patrocínios nem profissionais. A imaginação precária e a vontade de mudar as nossas vidas está a juntar a energia que precisamos para um MayDay Lisboa ainda mais participado e interventivo do que o ano passado. No pouco tempo que falta, dedicamos todo o empenho na divulgação da parada. Mas agora com muito mais confiança, porque sabemos que somos mais.
MayDay!! MayDay!!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O mundo diplomático

A edição portuguesa do Le Monde Diplomatique do mês de Abril apresenta-nos um texto sobre o RJIES, da autoria de Maria Eduarda Gonçalves, professora do ISCTE.
Foca, principalmente, os aspectos da gestão das universidades (orgãos, práticas, metas e consequências), com a entrada em vigor do regime jurídico e aponta a fatalidade da imposição em tão curto espaço de tempo de uma reforma tão complexa e com implicações tão profundas.

A edição online ainda nos apresenta dicas valiosíssimas de como ter sucesso nesta reforma do ensino, na universidade feudal do futuro!

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Está perto do fim o julgamento dos "praxistas" de Santarém

Ex-caloira da Escola Agrária disse em tribunal que as praxes a que foi sujeita foram "uma tortura"


Para alguns dos ex-caloiros da Escola Superior Agrária de Santarém (ESA), que ontem foram chamados a depor como testemunhas em tribunal, o que se passou nas praxes daquele dia 8 de Outubro de 2002 foi uma "brincadeira" com excrementos de porco e de vaca. E fez parte da "integração" dos novos estudantes, como eles. Para outros, o que aconteceu foi "um castigo", uma "punição" a que Ana Francisco, então aluna do 1.º ano de Engenharia Alimentar, "foi obrigada a sujeitar-se". Sete jovens, entre os 27 e os 32 anos, estão a ser julgados por alegada violência nos rituais de recepção ao caloiro daquele ano lectivo de 2002/2003.Ontem, na quarta sessão do julgamento (o primeiro do género no país), Ana Francisco prestou pela primeira vez declarações perante o juiz Galvão Duarte Silva do Tribunal Judicial de Santarém. E disse que naquele dia chorou e teve "muito medo".

Seis dos arguidos são acusados de ofensa à integridade física. Um sétimo, o único que ontem não esteve presente na sessão que durou o dia todo, responde por coacção. No início do julgamento, quando foram ouvidos (a 14 de Fevereiro), garantiram que não quiseram ofender quem quer que fosse, que Ana Francisco aceitou as praxes e que nas praxes não há castigos.Seis anos depois das práticas que, alegadamente, a fizeram mudar de curso e de escola, Ana Francisco apresentou outra versão. Diz que naquele dia foi a única a ser "esfregada com excrementos" num grupo de dezenas de caloiros numa quinta da escola, a 30 quilómetros de Santarém. E a única a ser mergulhada de cabeça num penico com bosta, já na ESA. Garante que foi "castigada".Tudo terá começado porque os caloiros estavam proibidos de atender telefonemas e ela atendeu um. Ana Francisco contou que um dos veteranos, José Vaz, gritou com ela. "Expliquei-lhe que era a minha mãe, que ela estava doente, que tinha sido operada havia pouco tempo..."Outro arguido ainda, que Ana Francisco identificou como sendo Rui Coutinho, tê-la-á insultado por causa disso. "Ele andava de um lado para o outro aos berros, pronunciou palavras pouco amigáveis..." O juiz quis saber quais. "Posso dizer? A puta da sua mãe..."Depois disso, a ex-aluna garante que se declarou "antipraxe" e disse que se queria ir embora. "Mas eles disseram que eu estava muito longe [da escola], que era melhor permanecer ali". "Deixei-me ficar, lembro-me de pensar que nem sabia, se me fosse embora, para que lado devia ir..."Ana Francisco contou ainda que uma das arguidas, Sandra Silva, ordenou-lhe que ficasse "na posição de elefante pensador", de joelhos, com as mão debaixo dos mesmos e os pés levantados. E que pedisse desculpa aos colegas. Depois, quatro caloiros receberam ordens de alguns dos arguidos para irem buscar sacos de esterco para lhe barrarem o corpo: "Fui barrada nos braços, no pescoço, a barriga, no cabelo..." O juiz quis saber como encarou a jovem esse acto. "Como uma humilhação, uma tortura." Mais: "Temia que algo pior pudesse acontecer", se saísse da quinta e se fosse embora a pé, porque "eles estavam muito exaltados". Uma vez mais o juiz insistiu: o que achou ela que podia acontecer? "Ser violada..." A resposta suscitou risos de indignação entre alguns arguidos. Ana diz que foi também por ter medo que algo pior acontecesse que ficou "em silêncio". E participou em mais uma praxe que consistia numa simulação de um acto sexual com os outros caloiros.Já na ESA, outro arguido, Tiago Figueiredo, terá pedido a dois caloiros para a ajudarem a fazer o pino e a mergulhar a cabeça "até às pálpebras" num penico com bosta. No final, a advogada de defesa quis esclarecer uma dúvida que várias vezes foi colocada neste julgamento. "Alguma vez manifestou a sua discordância" com as praxes? O juiz respondeu pela jovem: "Sôtora: ela declarou-se antipraxe."As alegações finais estão marcadas para 24 de Abril.

(08.04.2008, Andreia Sanches, Público)

sexta-feira, 4 de abril de 2008

As propinas... já não são o que eram

As propinas eram para aumentar a qualidade das faculdades, lembram-se?


As famílias e os próprios estudantes (aqueles que trabalham) do Ensino Superior têm amortecido a quebra do montante de investimento público por discente, que se cifrou em menos 12%, quando se comparam os montantes de 1995 e 2004. O investimento privado (famílias) passou de 3,5% para 14% no mesmo espaço de tempo. O desvanecimento financeiro do Estado é quase integralmente compensado pela contribuição das famílias.
Em Espanha, o investimento público por estudante do Superior aumentou significativamente entre 1995 e 2004 (de 100 para 171, isto é, 71%), isto apesar de o número de alunos inscritos até ter decrescido (ver infográfico em que os valores de 1995 são todos iguais a 100). Em Portugal, passou-se o inverso o número de estudantes até aumentou 46%, mas o investimento público diminuiu 12%.
(JN, 3 de Abril de 2008)

O período analisado pela OCDE coincide, quase integralmente, com a entrada em vigor das propinas. Para quem não está lembrado, o principal argumento dos seus defensores era o do reforço da qualidade do serviço prestado. António Guterres, garantiu mais de que uma vez que não seria gasto um escudo das receitas das propinas a pagar salários ou com as despesas de funcionamento das instituições. Dez anos depois, os resultados estão à vista. Mais alunos nas faculdades, menos dinheiros no orçamento das instituições. Agora, que pretende generalizar um sistema de empréstimos no ensino superior, José Sócrates garante que não vai diminuir a despesa pública com a acção social escolar. Ainda alguém acredita?
(http://www.zerodeconduta.blogs.sapo.pt/, 3 de Abril de 2008)

Portugal entre os países onde há mais vantagens em tirar cursos superiores

Portugal é um dos países em que existem mais vantagens em tirar um curso superior, conclui um estudo da OCDE. Segundo este estudo, as vantagens não são apenas económicas, uma vez que se reflectem também a nível social.
(TSF, 3 de Abril de 2008)

Que respondes tu?


Estou perturbada pelo tema do "incidente do telemóvel", mas ao contrário do que se tem ouvido, a minha perturbação vem exactamente da análise que se tem feito do caso.
As palavras "autoridade", "família", "punição" (palavras muito usadas durante o Estado Novo), que têm entrado em quase todos os discursos (e que transformam as "pessoas mais novas" como pessoas inferiores) são tão antigas e obsoletas quanto o sistema de ensino.

Será normal que a Escola continue a ser apenas um local de reprodução e não de renovação de ideias? Esperamos nós que a Escola "ponha as crianças na linha" em vez de as ajudar a encontrar autonomia e autodeterminação? Queremos que saiam da Escola bons profissionais (precários, claro, que os tempos não estão para melhor) em vez de pessoas com ideias, capacidades e vontades de reinventar a sociedade?

Será que queremos impor desde cedo a estratificação da hierarquia que "nos manda obedecer" (aos pais, aos professores, aos patrões, aos polícias)?
Esperamos nós que a Escola seja um local de medo e retracção, vigiado por polícias e colegas, em vez de um espaço de liberdade onde as diferenças se respeitam?
Queremos que se ache normal que os professores roubem os telemóveis dos alunos, em vez de querermos que a Escola se reinvente e se adapte ao presente?

Eu respondo a tudo que não.

Ana Feijão