domingo, 29 de abril de 2007

Precariedade rima com Universidade

Sentado na sua cadeira de tábua-pã num qualquer anfiteatro de uma qualquer universidade um qualquer estudante pensa no seu futuro dourado. Nesse futuro não se inclui a precariedade do seu emprego.


Vejamos o que se passa hoje em dia nas universidades deste país: Bolonha, propinas, lóbis empresariais, bancos, praxes conformistas, arraiais das cervejas (os Académicos)… a precariedade não existe já na própria Universidade?


Falemos de Bolonha, a grande mudança necessária para aproximar o sistema de ensino português ao ensino europeu segundo ordens que vêm de cima. Para reflectir sobre o resultado do exercício democrático que este processo nos trouxe podemos certamente aproximar-nos do zero, foi uma ordem novamente ‘necessária’ para uma nova ordem europeia. Este mandamento é também um teste ao nível de consciencialização e aceitação que existe nas faculdades. O barulho e a acção foram poucos, porquê?


O que nos trouxe este processo foi a precarização do ensino universitário, adaptado ao que nos propõem no resto da vida: os cursos passam a ser mais curtos e organizados de uma forma mais leve e europeia para libertar os estudantes para o mercado de trabalho de uma forma mais célere. Mais desempregados e menos trabalho e está criada a possibilidade de as empresas poderem oferecer piores salários. Adensam-se também as condições para o culto do individualismo que facilitam uma menor preocupação com as desigualdades impostas. Mas para quem quiser continuar a estudar, só tem de pagar, e bem, e aí aumentam os encargos com as famílias, aumenta a pressão ao trabalhador-estudante e diminuem os diplomas para quem deixa de poder. O ensino é cada vez menos um direito e cada vez mais uma mercadoria. É a escola-empresa!


Voltando ao modo de como este processo foi implementado, ou seja, rejeitando qualquer discussão democrática entre todos os órgãos da universidade, fala-se agora do período de adaptação a este novo paradigma, e não há respostas. Como vão ser os pagamentos ao segundo ciclo? Haverá diferenciação entre os anteriores licenciados e os novos? Uma implementação que gera a confusão e a constante adaptação é também um sintoma dos tempos em que se quer as pessoas em constante movimento, sempre com dúvidas em relação à sua estabilidade de estudante ou de trabalhador que se vão convertendo num modo de vida, o da precariedade. Podemos falar também de outra suposta pedra de toque desta Bolonhada, a mobilidade e a flexibilidade, que só nos trazem um alargamento deste mercado de trabalho a nível europeu e a possibilidade de as empresas terem contacto com uma mais vasta comunidade de desempregados e ‘comprá-los’ ao mais baixo preço.


Assim não é preciso sair da universidade para ser precário, o que podemos definir como ‘o conjunto de condições materiais que implícitamente levam à negação de quaisquer direitos laborais’. As coisas hoje em dia não são tão escondidas assim, são até demasiado óbvias e será a maneira como as aceitamos no presente que definirá o nosso futuro dourado.


Rebelemo-nos! No 1º de Maio, tod@s ao MayDay!!

MayDay!! MayDay!!



"Não tenhas medo. Afinal de contas, quando acabares a tua licenciatura vais com certeza
arranjar um emprego na área que andaste a estudar. Ou será que não? Vai ser difícil com a falta de oferta de emprego e a vida de bolseiro não oferece garantias a ninguém.
Mesmo assim, se não arranjares nada na tua área podes sempre arranjar um emprego precário num call-center, numa caixa de hipermercado ou num restaurante de comida rápida. Aí receberás apenas uma parte daquilo que precisas para pagar as contas. Mas não há problema, porque é fácil arranjar empregos precários. Com 3 empregos precários já te aguentas bem. Pelo menos enquanto os patrões te quiserem lá. E depois? Vais ser precário para o resto da tua vida? Vais ser estagiário ou bolseiro para o resto da tua vida? Vais viver do subsídio de desemprego para o resto da vida? Afinal, é bom que tenhas medo. No dia 1 de Maio rebela-te e revela-te na Parada Mayday."


O MayDay é uma parada d@s precári@s, organizado em Milão desde 2001 e desde então generalizada a várias cidades europeias e, pela primeira vez este ano, no Japão e nos EUA.
A primeira parada MayDay é uma festa rebelde que junta operadores de call center, imigrantes, bolseiros, intermitentes do espectáculo e do audovisual, estagiários, desempregados e contratados a prazo, estudantes-(já/ainda/quase)-trabalhadores, etc...
No MayDay, a 1 de Maio, juntamo-nos contra a exploração, contra o emagrecimento dos apoios sociais e à habitação, desafiando o cizentismo da ordem neoliberal, iniciando um percurso de mobilização e de visibilidade.

No dia do Trabalhador, o precariado rebela-se!




PARADA 1º DE MAIO
ALAMEDA D. AFONSO HENRIQUES

PIC-NIC ÀS 13H

PARTIDA ÀS 14H EM DIRECÇÃO À PRAÇA DE ALVALADE


DESFILE COM A MANIFESTAÇÃO DO DIA DO TRABALHADOR

www.maydaylisboa.net

quarta-feira, 25 de abril de 2007

As Leis da Praxe são Outras


As queixas sempre chegaram... Sempre houve e continua a haver gente descontente com a situação... Há pessoas que não percebem... Outros questionam-se... Alguns revoltam-se... Outros tentam mudar!


Praxe! Porquê? Quando? Como? Onde? Eu?


Porque há gente que pensa e não se rende ás “inevitabilidades” impostas por outros. Não aceitam o conformismo. Questionam-se a respeito dos obstáculos que na vida vão encontrando e procuram as suas motivações e razões de existência. Depois lutam contra todas dificuldades que estão directa ou indirectamente relacionadas com o superar destes obstáculos.


É este o caso de Ana Sofia Damião que foi vítima de abusos aos quais lhe chamam “praxe”, onde sofreu as mais diversas formas de agressão e humilhação com repercussões físicas e psicológicas. Várias vezes afirmou que não queria ser “praxada” mas nestas situações de nada servem as vontades dos “caloiros” aos olhos dos “veteranos”. Indignada com a situação, apresentou uma queixa em tribunal contra os agressores. Parece que esta é a opção mais lógica para qualquer pessoa que seja agredida ou insultada por qualquer estranho em espaço público e com várias testemunhas do sucedido. Pois é, mas isso era se isto fosse numa outra qualquer situação que se passasse num espaço público “normal” sem este escudo protector que se chama tradição académica. No julgamento os agressores foram ilibados com o ridículo argumento de que a Ana Sofia já sabia que a praxe existia na Escola logo tinha de se submeter à sua lei (Instituto Piaget de Macedo de Cavaleiros - IPMC) e que era assim mesmo, por isso, se ela não queria não tinha nada de ir para lá. Parece que as leis da praxe são outras que não aquelas que são utilizadas no resto do nosso espaço social.


No decorrer deste processo a Ana Sofia tomou conhecimento de que os responsáveis da escola utilizaram o seu caso para publicitar o nome da instituição a nível nacional, como declarou João Domingos Sanches, docente e membro do Conselho Científico e Pedagógico do Piaget ao jornal Correio da Manhã no dia 2004-12-05, com o artigo “PÔR A PRAXE A RENDER”.


Indignada com a situação a Ana Sofia apresentou uma nova queixa em tribunal, agora contra o IPMC, pela sua incapacidade, irresponsabilidade e até cumplicidade para com os agressores no decorrer deste processo. Situações destas não são novidade dentro do IPMC, mas ninguém fala delas porque “as pessoas temem represálias e calam-se. Isto passa-se ao nível de alunos e professores” (João Domingos Sanches).


É explicitamente visível neste caso o tipo de relações de poder existentes dentro da Escola e entre esta e o resto da sociedade. Vários poderes estiveram envolvidos, Associações, Conselho Directivo, Ministério (portanto o Governo), Tribunal, e todos se posicionaram contra a Ana Sofia. Inclusive até no Parlamento se pensou em regulamentar a praxe, aqui houve uma clara divisão entre a esquerda (que se opôs) e a direita (a proposta foi feita pelo CDS-PP). Questionamo-nos assim: Qual a importância da praxe para quem a defende? Qual o interesse em perpetuá-la? Ela levou a que todos se pronunciassem a seu respeito.


No dia 2 de Maio saberemos o resultado deste julgamento – o Tribunal de Macedo de Cavaleiros vai pronunciar-se sobre a matéria provada. O que está em causa é saber se o IPMC é ou não responsabilizado pelos atropelos à vida da Ana Sofia Damião. Mas é, no fundo, muito mais do que isso: aquele tribunal pode inaugurar uma nova fase nas relações vividas na comunidade escolar, se escolher não voltar a fechar os olhos à evidência e finalmente mitigar a força das "leis" da praxe.


Estas são questões essenciais, que devem preocupar todos os que vivem e constroem o espaço Escola. O ]MOVE[ está consciente da importância da clarificação que representa o desfecho deste caso. Tal como a Ana Sofia Damião, não desistimos – queremos derrotar o conformismo perante supostas "inevitabilidades", por outra vida na Escola!
Resumo da conversa 'PENSAR E VIVER CIDADE'


Depois do Rural e das Agriculturas, as conversas entre a ciência e sociedade foram até à cidade, para conversar com as pessoas que respondem na sua vida, ao desafio de "pensar e viver a cidade”.


O eco das conversas passadas continuou a ouvir-se na sala de actos. A plateia, bastante preenchida não deixou perder o desafio que se propôs a todos, e felizmente, talvez sinal de que já se está a mudar algo, houve muitas opiniões discutidas abertamente entre a mesa e a plateia. Uma troca bastante frutífera, que permitiu a quem esteve lá, sair com novas ideias/soluções para se pensar e fazer cidade.


Na primeira mesa, cujo tema era a pergunta O QUE ESTAMOS A PLANEAR?, a professora Manuela Raposo Magalhães fez uma apresentação do actual planeamento em Portugal com mais ênfase nos Planos Directores Municipais (PDM) que ainda assim são um modelo de planeamento insuficiente e facilmente alteráveis. Falou dos interesses entre as autarquias e as empresas de construção que as financiam através das operações urbanísticas que levam a cabo, da edificação estar entregue à iniciativa privada reflectindo a paisagem resultante, mais a força do mercado imobiliário do que as intenções do planeamento. Alertou ainda para a corrupção urbanística, que se baseia principalmente na passagem do solo rural para solo urbano, onde os valores dos terrenos se inflaccionam brutalmente e para o problema da falta de formação técnica das autarquias.

O Economista Heitor de Sousa, o segundo interveniente, começou por denotar alguma retórica provocatória na pergunta/tema da mesa, O que estamos a planear? “Aquilo que alguns andam a tentar fazer por nós!”, alertando assim para o problema da falta de participação pública no planeamento e consequente falta de legitimação deste. Falou que os planos são encarados com pouca seriedade, visto que só 30% do conteúdo dos mesmos são executados. Alertou para o facto dos planos de ordenamento do território poderem ser alterados pelo ministro da tutela, indo contra a lei, contra as opiniões dos técnicos, subvertendo-se a lógica do plano, para eventuais interesses de outras ordens. Questionou-se também acerca do planeamento das áreas metropolitanas a nível Europeu, um planeamento aliado ao capitalismo, em que se pensam as áreas metropolitanas como áreas de competição europeia, contrariando as ideias de planeamento regional.

Dos desafios que ficaram subentendidos nesta primeira mesa, enunciam-se os que estão ligados às universidades: a promoção de cursos sobre a temática do ordenamento do território, para a sociedade e para as entidades políticas, a promoção da transdisciplinaridade dos conhecimentos, através de uma melhor cooperação entre departamentos e na constituição de projectos em que se envolvam alunos de diferentes cursos. Para os movimentos populares quer-se uma melhor organização e cooperação entre os vários movimentos assim como a denuncia directa de situações irregulares que pode ser feita por qualquer indivíduo ao Ministério Público.


Na segunda mesa - A CIDADE E AS PESSOAS: INCLUSÃO, EXCLUSÃO, DEMOCRACIA, PARTICIPAÇÃO - participaram em primeiro lugar Jaime Pinho e Fernanda Gonçalves. Estes fizeram uma abordagem mais descritiva dos bairros de reabilitação do projecto SAAL que foi em muitos dos casos mostrados um projecto de sucesso no que toca à melhoria das condições de vida das pessoas realojadas porque conciliou a actividade dos projectistas com as opiniões e necessidades dos então futuros moradores.


Depois seguiu-se a apresentação do Sociólogo Nuno Santos (‘Chullage’) que nos veio falar da sua experiência como habitante de um bairro social na Arrentela, e também da sua intervenção no planeamento democrático de projectos de bairros sociais em Portugal. Indicou a ghettização destes espaços como a principal causa dos seus problemas, pois são construídos em zonas muito desfavoráveis, “sem espaço cultural e económico”. Mais uma vez se falou na necessidade de um planeamento conjunto, entre aqueles que projectam e os que são visados pelo projecto.


O Professor João Nunes falou acerca dos valores éticos do arquitecto paisagista na elaboração dos seus projectos, que por princípio são elaborados para as pessoas em detrimento do benemérito pessoal dos profissionais.


O debate que se seguiu, ancorou-se nas questões ideológicas por detrás da reabilitação de bairros e da construção de bairros sociais, onde se constituiu um espaço com bastante profundidade reflectiva, que permitiu a cada pessoa pensar por si própria o cerne da questão.


Agradecemos a todos os que assistiram e participaram na “conversa”, tornando possível a troca de ideias que julgamos ser essencial para que se mude alguma coisa, para melhor. Esta é só a primeira parte do processo. Agora falta assumirmos os desafios que foram discutidos!

segunda-feira, 23 de abril de 2007

25 de ABRILCom 33 anos passados da Revolução de 25 Abril de 1974 o ]movE[ convida todos e todas a ver o filme "A Lei da Terra - Alentejo 76". Este é um documentário produzido durante o processo da Reforma Agrária em Portugal onde através de imagens reais se analisa as contradições, progressos, bloqueios e dúvidas que surgiram neste processo. Será uma óptima oportunidade de tomarmos contacto com esta etapa da Revolução e, como sempre, haverá um espaço de conversa onde poderemos falar sobre o 25 de Abril hoje e também o que significa esta luta pela liberdade.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

"Pensar e Viver a Cidade"
3º Conversa entre Ciência e Sociedade
I.S.A



A cidade, um local de encontro e de troca de experiências, onde a concentração de pessoas e a sua diversidade permitiu historicamente que novas ideias surgissem com um ritmo superior: é, portanto, um local de transformação e democracia, que pode e deve ser discutido por todos.

Falar de planeamento, de transportes, de cultura e de democracia, das decisões técnicas, das decisões políticas e de quem as vive, quer seja no "centro" ou na "periferia", é o que propomos nesta conversa. Convidámos pessoas que respondem, na sua vida, ao desafio de "pensar e viver a cidade": professores do ISA, da Secção Autónoma de Arquitectura Paisagista; também quem está mais perto dos órgãos de decisão e aí disputa opiniões técnica e politicamente; quem se interessa e estudou a participação popular na construção do espaço; e ainda quem organiza o associativismo que não aceita a exclusão social e espacial como destino para as suas vidas.

Esta conversa é acima de tudo uma oportunidade de se debater democraticamente um tema em que todos temos algo a dizer. Se não fosse assim, não faria sentido e como tal todos convocamos.


segunda-feira, 2 de abril de 2007

Viva quem muda Sem ter medo do escuro,
conversas na esplanada de Letras


Depois de todo o clima de medo que pairou nas últimas semanas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o Grupo Manifesto – surgido na sequência destes acontecimentos – decidiu enfrentar esses receios de frente e organizou uma conversa na esplanada do bar de letras no dia 29 de Março. Numa tarde solarenga, os temas abordados tocavam em dois pontos fulcrais: o racismo e a extrema-direita. Mas houve também espaço para pensar noutras dimensões do quotidiano, da Escola, da vida.

Para começar 3 músicas, duas vozes (Pedro e Diana) uma guitarra e um acordeão, na última música cantavam “O medo… é mentira”.

A mesa era composta por 4 pessoas. Rui Faustino em representação do Museu República e Resistência, descreveu a história do fascismo e como este sempre ascendeu em épocas de crise. José Mário Branco, músico e estudante de Letras, falou de irracionalidade e ignorância da extrema-direita, por outro lado a necessidade de combate do fascismo que existe dentro de nós.

Eduarda Dionísio, escritora, veio questionar e discutir o que é a liberdade e como há 40 anos, apesar das dificuldades, esta era maior dentro das faculdades do que “lá fora”. Por fim Tiago Gillot, em representação do SOS Racismo, falou-nos do racismo institucional e da pressão que esta organização tem feito sobre as entidades responsáveis nesta escola, devido à ascensão nestes locais da extrema-direita e ainda da importância da actividade e da organização das pessoas para afirmar outras coisas.

A seguir abriu-se um debate onde muitas pessoas falaram, exprimindo sem medos a sua opinião. Esta tarde de convívio e de conversa, demorou 4 horas e albergou mais de uma centena de pessoas. Provou-se mais uma vez que é possível conversar, que é possível abrir a Escola ao exterior, tornando-a um local de ideias e discussão.

O ]MOVE[ felicita esta iniciativa, aproveitando para saudar a existência de mais um grupo de estudantes numa faculdade que quer romper com as velhas agendas. A promessa feita no debate pelo Grupo Manifesto de continuar a sua actividade deixa-nos entusiasmados. Até já!