quarta-feira, 25 de abril de 2007

As Leis da Praxe são Outras


As queixas sempre chegaram... Sempre houve e continua a haver gente descontente com a situação... Há pessoas que não percebem... Outros questionam-se... Alguns revoltam-se... Outros tentam mudar!


Praxe! Porquê? Quando? Como? Onde? Eu?


Porque há gente que pensa e não se rende ás “inevitabilidades” impostas por outros. Não aceitam o conformismo. Questionam-se a respeito dos obstáculos que na vida vão encontrando e procuram as suas motivações e razões de existência. Depois lutam contra todas dificuldades que estão directa ou indirectamente relacionadas com o superar destes obstáculos.


É este o caso de Ana Sofia Damião que foi vítima de abusos aos quais lhe chamam “praxe”, onde sofreu as mais diversas formas de agressão e humilhação com repercussões físicas e psicológicas. Várias vezes afirmou que não queria ser “praxada” mas nestas situações de nada servem as vontades dos “caloiros” aos olhos dos “veteranos”. Indignada com a situação, apresentou uma queixa em tribunal contra os agressores. Parece que esta é a opção mais lógica para qualquer pessoa que seja agredida ou insultada por qualquer estranho em espaço público e com várias testemunhas do sucedido. Pois é, mas isso era se isto fosse numa outra qualquer situação que se passasse num espaço público “normal” sem este escudo protector que se chama tradição académica. No julgamento os agressores foram ilibados com o ridículo argumento de que a Ana Sofia já sabia que a praxe existia na Escola logo tinha de se submeter à sua lei (Instituto Piaget de Macedo de Cavaleiros - IPMC) e que era assim mesmo, por isso, se ela não queria não tinha nada de ir para lá. Parece que as leis da praxe são outras que não aquelas que são utilizadas no resto do nosso espaço social.


No decorrer deste processo a Ana Sofia tomou conhecimento de que os responsáveis da escola utilizaram o seu caso para publicitar o nome da instituição a nível nacional, como declarou João Domingos Sanches, docente e membro do Conselho Científico e Pedagógico do Piaget ao jornal Correio da Manhã no dia 2004-12-05, com o artigo “PÔR A PRAXE A RENDER”.


Indignada com a situação a Ana Sofia apresentou uma nova queixa em tribunal, agora contra o IPMC, pela sua incapacidade, irresponsabilidade e até cumplicidade para com os agressores no decorrer deste processo. Situações destas não são novidade dentro do IPMC, mas ninguém fala delas porque “as pessoas temem represálias e calam-se. Isto passa-se ao nível de alunos e professores” (João Domingos Sanches).


É explicitamente visível neste caso o tipo de relações de poder existentes dentro da Escola e entre esta e o resto da sociedade. Vários poderes estiveram envolvidos, Associações, Conselho Directivo, Ministério (portanto o Governo), Tribunal, e todos se posicionaram contra a Ana Sofia. Inclusive até no Parlamento se pensou em regulamentar a praxe, aqui houve uma clara divisão entre a esquerda (que se opôs) e a direita (a proposta foi feita pelo CDS-PP). Questionamo-nos assim: Qual a importância da praxe para quem a defende? Qual o interesse em perpetuá-la? Ela levou a que todos se pronunciassem a seu respeito.


No dia 2 de Maio saberemos o resultado deste julgamento – o Tribunal de Macedo de Cavaleiros vai pronunciar-se sobre a matéria provada. O que está em causa é saber se o IPMC é ou não responsabilizado pelos atropelos à vida da Ana Sofia Damião. Mas é, no fundo, muito mais do que isso: aquele tribunal pode inaugurar uma nova fase nas relações vividas na comunidade escolar, se escolher não voltar a fechar os olhos à evidência e finalmente mitigar a força das "leis" da praxe.


Estas são questões essenciais, que devem preocupar todos os que vivem e constroem o espaço Escola. O ]MOVE[ está consciente da importância da clarificação que representa o desfecho deste caso. Tal como a Ana Sofia Damião, não desistimos – queremos derrotar o conformismo perante supostas "inevitabilidades", por outra vida na Escola!

2 comentários:

Alice disse...

Como prometido, estou de visita ao vosso blog - não encontro sítio para "postar" no local correcto, que seria junto do anúncio da sessão sobre a reforma agrária, no ISa/DEF, por isso deixo-vos aqui a minha mensagem. Achei curioso e importante que gente da vossa idade se preocupe em reflectir sobre a tão curta como intensa experiência da reforma agrária. Sem saudosismos que não levam a lado nenhum, importa não esquecer o passado e aprender com ele. Aí há lugar para outras sessões como a desse dia. A memória não pode ser curta. O passado tem de ser conhecido e entendido!
continuem, não há outro caminho!

AnnaMoon disse...

Olá, muito bom dia :)

Com muito gosto tomo conhecimento deste blog, que descobri no motor de busca do google a fazer pesquisa para Ana Sofia Damião. E com muito mais gosto ainda vejo que ha pessoas do nosso lado, que nos perçebem apoiam, falam neste assunto... Eu também tenho um processo em tribunal... e tambem tenho um blog :) em: http://pimentarosa-annamoon.blogspot.com, e já agora se não se importarem vou adicionar o vosso blog à minha lista na pagina :) Beijinhos e a continuação de uma boa escrita :)