quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Tudo começa numa Semente,

Ricardo Vicente/Portugal


essa semente dá origem a uma planta, que por sua vez dá origem a um ou vários orgãos comestiveis que alimentam populações e criam dentro e entre estas as mais diversas interacções sociais e económicas. Foi esta semente que possibilitou a fixação das populações dando origem ás primeiras civilizações e possibilitando o seu crescimento. Seguindo o caminho traçado pela natureza, esta semente deu origem a uma planta que deu frutos e deixou sementes para assegurar as gerações futuras. Estas sementes foram sendo seleccionadas pela natureza ao longo de milénios, o que lhes fornece uma grande adaptabilidade aos seus locais de origem ou regiões onde se tenham fixado á tempo suficiente para tal, sendo as mais resistentes e produtivas dentro desse espaço com os recursos que por ele lhe são fornecidos. Também o Homem exerceu uma pressão de selecção ao longo dos tempos, semeando sempre as sementes daquelas plantas que melhor respondiam á sua necessidade. Contudo, estas plantas sempre garantiram o futuro das próximas gerações através das suas próprias sementes.



As técnicas de melhoramento de plantas foram evoluindo e foram-se descobrindo plantas (nem sempre) mais produtivas, como é exemplo o milho híbrido. Estas descobertas foram até apontadas como uma resolução para a fome no mundo! O problema, é que estas novas plantas só eram (e são) mais produtivas na presença de uma maior intervenção por parte do homem no ecossistema agrário, através da utilização de mais factores de produção (ex: adubos). O que veio a provocar uma grande desigualdade entre aqueles que têm acesso a esses factores (e conhecimento para a sua utilização adequada) e os que não têm. Para agravar a situação, os híbridos trouxeram consigo a dependencia entre o agricultor e o fornecedor de semente, pois as sementes resultantes de uma planta híbrida não asseguram as gerações futuras, abrindo-se assim as portas para o grande negócio que é a venda de sementes patenteadas. Como é óbvio, este problema teve consequências desastrosas nos “países em vias de desenvolvimento”. Os agricultores mais desfavorecidos viram-se obrigados a abandonar a agricultura, criando-se dependências alimentares entre produtores e consumidores o que levou a um aumento da fome no mundo (essencialmente em África). Esta época ficou conhecida como “a revolução verde”.


Actualmente fala-se nas plantas transgénicas e no futuro “risonho” por elas proporcionado...(?) Tal como a maioria das plantas melhoradas, as transgénicas também são patenteadas e as suas sementes não asseguram qualquer cultura para o ano seguinte, asseguram sim, os lucros das poucas empresas como a Monsanto e a Syngenta (para quem sim, o futuro é risonho!) que dominam a totalidade do mercado mundial de sementes transgénicas. E mais do que isso, elas dominam e direccionam toda a investigação ciêntifica. O que não surpreende, pois os diversos estados estão a desresponsabilizar-se do Ensino Superior e de toda a investigação, deixando o ensino e a investigação rendidos ás “leis do capitalismo”. Este é um facto que elimina qualquer ilusão de que os transgénicos possam vir a ter uma utilização socialmente e económicamente justa. Porque o seu rumo é o máximo lucro das poucas empresas que dominam este negócio!!!


No entanto, a aplicação destes transgénicos não tem sido fácil na Europa, onde felizmente as pessoas também questionam a ciência, onde a História é a prova de que a ciência também erra. Com tal oposição, o sistema procura outros caminhos para chegar ao mesmo objectivo: o monopólio do negócio das sementes. Em França, encontramos já esse outro caminho, onde foi ratificada a proposta de lei que proíbe a recolha e utilização de sementes para re-semear no ano seguinte (mesmo não sendo transgénicas). O certificado de obtenção vegetal (COV) que os agricultores recebem ao comprar semente certificada passa a ter valor equivalente a patente e o agricultores são obrigados a comprar sementes no próximo ano novamente.



A imagem "http://www.irancartoon.com/2005/best/Dalcio-Machado-Brazil.jpg" não pode ser mostrada, porque contém erros.
Dalcio Machado/Brasil


Para além destes problemas sócio-económicos, a utilização de plantas transgénicas levantam muitos outros problemas, nomeadamente agro-ambientais. Como é exemplo a perda de Biodiversidade, nomeadamente diversidade genética (onde se aponta como resolução a criação de bancos de germoplasma, como se fosse possível a concervação da diversidade genética na sua integridade no interior de um “frigorifico”) e a amplificação de pressões de selecção e consequentemente o aparecimento de resistências. É caso para perguntar, onde é que se entra com o famoso Nível Prejudicial de Ataque na ponderação da utilização de plantas transgénicas resistentes a uma qualquer praga? Este é um conceito muito ponderado naquela que tem sido apontada como a agricultura do futuro (na Europa), a Produção Integrada. Onde existem métodos para ponderar a aplicação de qualquer pesticida de modo a diminuir os impactos ambientais e não esquecendo o factor económico da actividade agrícola. A título de exemplo, temos o caso das plantas transgénicas que sintetisam a toxina produzida pela bactéria Bacillus Thuringiensis, que é tóxica para as larvas dos lepidópteros (borboletas) por ingestão, e é um meio de combate utilizado também em agricultura biológica. Uma vez que o factor de selecção (a toxina) está presente durante toda vida da planta, a praga rápidamente vai ganhar resistência a esta toxina, e então todo o investimento que foi feito para “construir” esta planta resistente foi perdido, e pior do que isso é que perdemos também um meio de combate biológico e temos agora que voltar a investir noutra alternativa, que será sempre mais dificil de encontrar para a agricultura biológica do que para as restantes.


Estes são alguns dos motivos que me levam a dizer NÃO à utilização de plantas transgénicas, um NÃO que é partilhado pela grande maioria da Comunidade Europeia, mas que apesar disso continua a ser ignorado. Infelizmente a opinião pública é cada vez menos ouvida, prevalecendo os objectivos empresariais que estão a ocupar tudo quanto é espaço, inclusive a tua Universidade!

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